Policiais ofereciam QR code e wi-fi de batalhão para cobrar dinheiro de motoristas e não dar multas, no Paraná

Vídeos obtidos pela investigação referente a policiais rodoviários estaduais suspeitos de cobrar dinheiro de motoristas para evitar multas no Paraná mostram o esquema em ação.

Policiais ofereciam QR code e wi-fi de batalhão para cobrar dinheiro de motoristas e não dar multas, no Paraná
Policiais ofereciam QR code e wi-fi de batalhão para cobrar dinheiro de motoristas e não dar multas, no Paraná (Foto: Reprodução)

Em um deles, é possível ver que o agente público aborda um caminhoneiro e, após conversar com ele, pega o próprio celular e abre um QR code. Na sequência, o caminhoneiro abre um aplicativo de banco, os celulares são aproximados, e após o motorista mostrar a tela do próprio celular ao policial, é liberado da blitz.

Segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Paraná (MP-PR), que foi responsável pelas investigações, o QR code para pagamento em Pix era oferecido aos motoristas quando eles afirmavam não ter dinheiro em espécie para pagar a propina.

O Gaeco também descobriu que em trechos das rodovias onde não havia área de celular, os policiais ofereciam a internet do próprio celular e/ou o wi-fi do posto do batalhão da polícia para os motoristas efetuarem o pagamento.

Segundo o órgão, pelo menos 100 vítimas foram identificadas durante as investigações, sendo que a maior parte são caminhoneiros.

👉 "Ele pediu dinheiro para mim. Eu falei: 'Eu não tenho'. Aí ele falou: 'Então você faz pelo menos um Pix, senão eu vou te multar'. E a multa era pesada! Aí eu peguei e fiz, e fui embora. Se não, ele disse que podia até me prender o caminhão", disse uma das vítimas, em depoimento.

Os policiais suspeitos foram alvos de duas operações do gaeco. No total, 10 policiais das regiões de Ponta Grossa e Guaraniaçu foram afastados da função, e um da região de Guarapuava foi preso. Durante a ação, também foram cumpridos 30 mandados de busca e apreensão.

Os nomes dos suspeitos não foram oficialmente revelados. O g1 tenta identificar as defesas deles.

Em nota, a Polícia Militar do Paraná afirmou que "a corregedoria-geral acompanha todas as diligências de forma presencial, assegurando a transparência e a legalidade dos procedimentos".

Os crimes

Os mandados expedidos para esta terça-feira (7) integram a segunda fase da operação "Rota 466" e, também, uma outra operação batizada de "Via Pix".

Segundo o MP-PR, uma das investigações aponta que os policiais exigiam propina de condutores flagrados por infrações de trânsito ou de pessoas que trabalhavam com salvamento de cargas tombadas, configurando possíveis crimes de concussão, corrupção passiva e lavagem de ativos.

Além disso, afirma o órgão, foram descobertas outras pessoas físicas e jurídicas que realizavam a lavagem dos valores de propina por meio de suas contas bancárias, que também foram alvos de busca.

"A apuração revelou uma estrutura sofisticada de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo os policiais militares, empresas e civis. Durante a fiscalização das rodovias estaduais, em blitz ou em frente aos postos policiais, os investigados exigiam vantagens indevidas de motoristas sob os mais diversos pretextos, muitos deles sem qualquer base legal, e somente liberavam os veículos após o pagamento, que poderia ser em dinheiro ou por meio de transferências bancárias por Pix, geralmente para contas 'laranjas' de empresas e civis", explica o MP-PR.

"Um ex-comandante do Posto de Polícia Rodoviária de Guarapuava, que já tinha sido alvo da primeira fase da operação, foi preso preventivamente. Após a deflagração das investigações, descobriu-se que ele praticou inúmeros outros crimes de corrupção, recebendo pelo menos R$ 47 mil de propina, além de ter tentado atrapalhar as investigações, dificultando a colheita de provas".


TV Entre Rios

Por Raphael Costa, Marcelo Rocha, Millena Sartori, g1 PR e RPC Ponta Grossa